Mais de 840 milhões de pessoas em todo o mundo, ou 1 em cada 9 indivíduos, não têm acesso a água potável, e 2,3 mil milhões, ou 1 em cada 3, não têm acesso a sanitários. “Em todo o mundo, mais pessoas têm telemóvel do que casas de banho”, explica Matt Damon, activista pela água e actor. Num esforço global para evitar grandes crises hídricas e para melhorar o acesso a água potável e saneamento a nível mundial, o Conselho Mundial da Água organiza a 8ª edição do Fórum Mundial da Água, que decorre em Brasília até sexta-feira, coincidindo com o Dia Mundial da Água.
Mais de 10 Chefes de Estado, incluindo os presidentes do Brasil, Michel Temer, da Hungria, János Áder, do Senegal, Macky Sall e o primeiro-ministro sul-coreano, Lee Nak-yeon, juntamente com CEOs de empresas que integram a selecção Fortune 500, entre outros, viajaram até à capital brasileira para participar nos painéis de alto nível onde o futuro da segurança hídrica será planeado para os próximos três anos. Ao longo de mais de 200 sessões, milhares de participantes irão juntar-se para encontrar soluções para os desafios mundiais da segurança hídrica.
O primeiro Fórum Mundial da Água foi sediado em Marrocos em 1997. Entre os seus triunfos, o trienal Fórum Mundial da Água tem sido fundamental ao promover o reconhecimento do acesso à água como um Direito Humano, que finalmente foi reconhecido pela ONU em 2010. Isso aconteceu nas vésperas do 6º Fórum Mundial da Água (em Istambul, Turquia), onde a natureza fundamental deste direito foi defendida a cada momento.
Além disso, o Fórum Mundial da Água e seu criador, o Conselho Mundial da Água, desempenharam papéis fundamentais em garantir o reconhecimento a meta 6 dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), garantindo o acesso seguro à água e ao saneamento para todos. Este objectivo, estabelecido pelas Nações Unidas em 2015, deve ser alcançado até o ano de 2030.
O Hemisfério Sul recebe o Fórum Mundial da Água pela primeira vez, abrindo as portas da América do Sul para dialogar e trocar experiências e boas práticas relacionadas com o uso da água. Esta edição brasileira oferecerá uma Vila Cidadã, que receberá gratuitamente todos os cidadãos globais para participar no debate através de exposições, palestras, filmes, oficinas de artesanato, entretenimento, “talk shows” e praças de alimentação “gourmet”.
O Fórum Mundial da Água é, também, uma oportunidade crucial para que as autoridades globais partilhem conhecimento e desenvolvam estratégias para várias questões, como o combate à variabilidade climática e à escassez de água. Em 2025, metade da população mundial estará a viver em áreas de forte pressão hídrica como secas, inundações e outras crises hídricas que já estão a ocorrer em muitas partes do mundo, como na Cidade do Cabo, na África do Sul, ou em São Paulo. O principal abastecimento de água da cidade brasileira, o reservatório de Cantareira, foi recentemente reduzido para 5% de capacidade, comparável a apenas um mês de abastecimento. A ironia desta realidade está no facto de que o Brasil possui a maior fonte mundial de água doce, com 12% da oferta do planeta.
Sem água, não há vida, não há comida, não há desenvolvimento. No Fórum Mundial da Água, sob o abrangente tema “Partilhando Água”, à luz do papel do recurso na união de comunidades e na destruição de barreiras, decisores de todo o mundo juntam-se para discutir e apresentar recomendações que irão garantir a água no nosso futuro.
“A água é, essencialmente, uma questão política e deve ser tratada nos mais altos níveis de tomada de decisão. Temos uma enorme quantidade de conhecimento científico e temos uma grande quantidade de soluções para escolher, mas os legisladores devem ser fazer disso uma prioridade para que essas propostas possam ser colocadas em prática”, explica o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga.
À volta do mundo, alguns dos problemas mais urgentes em torno da água não são sobre quantidade, mas sim qualidade. Esta é uma questão de vida ou morte para muitas pessoas, em todo o mundo – já que 660 milhões de pessoas não têm acesso a recursos de água potável aperfeiçoados e 2,4 mil milhões não têm acesso a saneamento aperfeiçoado.
Em particular, níveis severamente baixos de cobertura de saneamento são as principais causas de morte e doenças em todo o mundo; recentemente, em 2016, 8% das crianças com menos de 5 anos morreram de diarreia, geralmente causada pelo consumo água contaminada. Aqueles sem acesso a saneamento adequado vivem principalmente na Ásia, África subsaariana, América Latina e nas Caraíbas. Mulheres e meninas são as mais afectadas por questões de água potável e saneamento, pois passam colectivamente mais de 200 milhões de horas por dia a recolher água.
O Dia Mundial da Água 2018 destaca as “soluções baseadas na natureza” para os desafios hídricos actuais, muitas vezes exacerbados pelas alterações climáticas, desastres naturais e crescimento populacional desordenado. O Fórum Mundial da Água ajudará a mostrar aos líderes como uma combinação da infra-estrutura já existente, realidades geográficas, recursos naturais e financiamento adequado pode levar a uma melhor gestão de água. Por cada dólar investido em água e saneamento, o retorno económico em termos de custos de saúde evitados e produtividade é de quatro dólares.
Através da organização do Fórum Mundial da Água, o Conselho Mundial da Água (WWC) convoca todos os governos a colocarem os recursos hídricos como a sua principal prioridade e encoraja-os a aumentar os orçamentos para infra-estruturas multiusos sustentáveis da água, de forma a garantir água potável para todos no planeta e para diferentes usos, como a produção de alimentos e energia, salvaguardando o meio ambiente.
O facto de que 80% dos países revelarem financiamento insuficiente para responder às metas nacionais de água potável não pode continuar a ser uma realidade em pleno Século XXI. A necessidade por um empenho e inovação renovados é clara, uma vez que o financiamento deve triplicar para 90 mil milhões de euros por ano, tendo em consideração os custos operacionais e de manutenção para atender a meta 6 dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Relatórios-chave lançados no Fórum Mundial da Água:
1. Ten Action Points for Financing Water Infrastructure: identifica as barreiras para fluxos financeiros de fontes não-tradicionais e as oportunidades para seguir em frente.
2. Relatório Aumento dos Fluxos Financeiros para o Saneamento Urbano: inclui oito estudos de caso urbanos contemporâneos. O relatório centra-se principalmente no financiamento do saneamento urbano e fornece informações sobre como pode ser o saneamento urbano em 2030 e como será financiado.
3. Global Water Security: Lessons Learnt and Long-Term Implications. Este livro apresenta lições importantes de dez estudos de caso e propõe políticas inovadoras para que todos os utilizadores da água atinjam a segurança hídrica sustentável.
4. Start with Water: Putting water on local action Aaendas to support global change. Fornece estratégias e apoio para ajudar as cidades a contribuir para agendas globais. É apresentado como um conjunto de oito recomendações, incorporando estudos de caso de todo o mundo.
5. O relatório Implementation Roadmaps avalia os progressos realizados pela comunidade da água sobre os desafios identificados no 7º Fórum Mundial da Água.
6. O IWRM Paper on Water Resource Management baseia-se nas conquistas das décadas passadas. O Grupo de trabalho de Gestão Integrada de Recursos Hídricos do Conselho Mundial da Água elaborou mensagens políticas fundamentais, novas e actualizadas, para estimular a revitalização da GIRH.
Sobre o Conselho Mundial da Água
O Conselho Mundial da Água (World Water Council – WWC) é uma organização internacional composta por diversas partes interessadas, fundadora e co-organizadora do Fórum Mundial da Água. A missão do Conselho visa mobilizar para questões críticas sobre a água em todos os níveis, incluindo o mais alto nível de decisão, envolvendo pessoas no debate e desafiando o pensamento convencional. O Conselho está focado na dimensão política da segurança da água, bem como sua adaptação e sustentabilidade, e trabalha para incluir o tema no topo da agenda política mundial. Com sede em Marselha, França, e criado em 1996, o Conselho Mundial da Água agrega mais de 300 organizações-membro provenientes de mais de 50 países.